segunda-feira, 11 de maio de 2009

obrigada avó!


No âmbito da disciplina de tecnologias da saúde, calhou-me em mãos um tema do qual já ouvi muito falar e, de certa forma, vivenciei.

Diálise.

A Sr.ª P. (minha avó) sofria de diabetes desde os seus 30 anos. Todos sabemos as consequências que daí advém.Neste caso depois de muitas outras complicações, surgiu a insuficiência renal.Primeiro hipótese de tratamento: transplante. O dador existe, há uma grande probabilidade de compatibilidade (pois o dador é da família da Sr.ª P. – irmã) mas… a Sr.ª P. recusa. Tem consciência que a irmã viverá saudavelmente só com um rim, também sabe que era a melhor hipótese de tratamento, mas refere que “se ela tem a doença a irmã também poderia vir a ter e não quer deixar mal a irmã”. A insistência por parte dos profissionais de saúde e pela própria irmã (dadora) não a fizeram mudar de ideias. Transplante, NÃO!

Segunda hipótese: Hemodiálise. A Sr.ª P. aceita. Inicia-se o tratamento. O táxi vem busca-la e traze-la a casa. São 3 vezes por semana. São 3 vezes por semana que a Sr.ª P. se desloca à clínica, são 3 vezes por semana que a Sr.ª P. chega a casa com pirose, são 3 vezes por semana que a Srª. P. chega a casa e nada mais consegue fazer. É de salientar que esta senhora fazia o almoço sempre para toda a família. Não conseguiu mais faze-lo. Daqui surgiram muitas complicações psicológicas,principalmente um sentimento de inutilidade. Nós, a família, não sabíamos o que fazer, ninguém nos informou das consequências do tratamento, ninguém nos explicou que isto poderia acontecer. A Sr.ª P. piora e recusa continuar com o tratamento.

Terceira hipótese: Diálise peritoneal. Tratamento feito em casa, ainda que todos os dias e 3 vezes por dia. A Sr.ª P. aceita e refere que “assim já consegue cuidar das netas e fazer o almoço para toda a gente”. Aqui sim, a família foi chamada. Dois elementos da família, além da utente, deveriam aprender a fazer o tratamento. Aprendi eu e o marido da Sr.ª P. (meu avô). Agora sim, explicaram todo o processo, vantagens e desvantagens. Agora sim, explicaram o porquê do tratamento e toda a sua envolvência.

Aprendi a fazer diálise peritoneal ao lado de crianças. Sim, crianças com 5 ou 6 anos, mal sabiam ler mas aprendiam como ninguém a fazer o seu tratamento, sem queixas ou choros. Aprendem rápido! Crianças que consolavam os pais que choravam por elas. Inicialmente, achei que juntar as crianças e adultos no mesmo espaço não seria boa ideia. Pensei eu que elas poderiam sentir-se mal ou até pensariam que, depois, quando adultos continuariam com o tratamento como aqueles adultos. Depois abandonei a ideia. Estas crianças dão uma enorme força a todos os adultos. Dão uma lição de vida.

E queixamo-nos nós da nossa vida?

Eu, como familiar de uma pessoa com insuficiência renal, ficava muitas vezes a pensar nisto. Tantas vezes pensava eu “que mal está a minha vida”, mas depois olhava para o lado e via a minha avó que apesar do tratamento continuava ali sempre pronta a ajudar. Que apesar de continuar com algum sentimento de inutilidade, tudo fazia para ajudar toda a gente que vivia naquela casa, para não ser uma sobrecarga para ninguém. E acima de tudo, para continuar a viver, pois os únicos sonhos, era ver as netas bem e formadas, um dos maiores orgulhos era que uma se torna-se enfermeira, profissionais que ela muito admirava pelo contacto que tinha com eles.

Não viu, mas esteja onde estiver eu sei que ela vê.

Obrigada avó!


A tua Nitinha

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