domingo, 31 de maio de 2009

Comentário aos posts...

Como olhar ao que tenho vindo a escrever no blog, recebi este comentário que gostei e agradeço. Aqui fica um outro olhar que se pode complementar com outros...

Obrigada, Beijinhos


"Olá Patricia
Fico contente por estares a gostar do estágio... Claro que algumas coisas podem ser menos positivas, mas mesmo dessas temos sempre algo a aprender... sempre... Elas ensinam-te muita coisa, como o lidar com situações estranhas e inesparadas que nos tornam mais maduros e prontos a enfrentar tudo o que se nos aparece. Depressa o verás.Vocês iam cheios de expectativas, de formas e graus variados dependendo de cada um e isso é o que altera a maneira como cada qual vive a mesma situação... Uns com maior intensidade e que querem beber tudo o que puderem em termos de conhecimento, outros ficarão pelo indispensável para tirar a nota no final... Enfim, ninguém está errado acho eu, cada um traça as metas que pretende para a sua vida...não fazer juizos de valor é uma coisa que se aprende na enfermagem...Mas para os alunos em questão fará muita diferença ao longo do seu percurso enquanto profissionais e pessoas. Também acontecem situações injustas, ou seja, aqueles que procuraram mais, podem ficar para trás quando se tratar de um lugar ao sol (de trabalho) e os outros singram mais facilmente mas, apesar disto constituir uma revolta para os visados, mesmo assim estes adquiriram coisas ao longo do seu desenvolvimento que poderão ter escapados aos outros. E olha que mais cedo ou mais tarde serão recompensados... terão sempre que esforçar-se mais um pouco, mas até isso só os fortalecerá como pessoas e ganharão a autoconfiança que necessitam para continuar.Digo isto, porque todos somos diferentes e, como tal, vemos as coisas de forma diferente (uma prof. que eu admiro, SÁ-CHAVES refere isto como sendo o efeito multiplicador do diverso). Quanto mais diverso, mais multiplicador e mais rico... É assim que devem ver estas novas experiências só terão que contemplar uma exigência... para se adquirir esta visão de mundo temos que ser capazes da flexibilidade cognitiva e eu, ainda, acrescento a emocional (pois cada vez mais se fala em ambas em simultâneo). Conhecimento sem emoção não é suficiente e sabemos muito bem que nos dias de hoje cada vez mais devem estar em associação... Senão o conhecimento alia-se ao desejo de puro controlo da vida das pessoas sem perceber que essa invenção (qualquer que seja, como a bomba atómica por exemplo)pode servir para tornar as pessoas menos felizes (daí a importância das emoções que constituem a questão do para quê?).Os blogs são interessantes porque podemos colocar os comentários ao que se lê e gostei do teu, pelo olhar que vi logo na primeira página.. Interessante... o teu olhar à espera de outros olhares que se queiram juntar. Muito bem visto e olhado Tixa!Deixa-me fazer um comentário a um texto que lá está e que tem que ver com o que dizes relativamente ao relatório reflexivo...Um relatório reflexivo, para ser bom, não necessita de "palavras caras", aliás as palavras simples espelham muito melhor o que vai no pensamento de quem as escreveu porque não se escondem atrás de floreados artificiais... Para tal, basta juntar a clareza de ideias que tornam a leitura e a compreensão do que se lê mais fluida.Não quero com isto dizer que aqueles que tenham uma veia mais artistica ou poética não a utilizem criativamente, mas não se esqueçam de tornar claro aos outros (leitores) o que pretendem dizer.A questão que colocas no final sobre se não se será tão bom enfermeiro se não souber escrever... Como sabes o enfermeiro tem várias formas de comunicar os cuidados que presta; através da linguagem verbal e não verbal, mas tb pela escrita em que dá visibilidade do que faz ao exterior. Se assim não for, como podemos ser valorizados no papel que temos junto das populações e dos gestores (que não podemos esquecer uma vez que é uma realidade)? O escrever... o passar para o papel um conjunto de ideias ordenadas, já reflectidas, a escolha de umas por outras que nos parecem as mais adequadas ajudam-nos a pensar, em simultâneo, sobre o que fazemos e como fazemos e tb a reformular os cuidados que prestamos quando no final destas acções achamos que existiam outras formas melhores de as realizar... É isto a reflexão Tixa... E isto é passível de treino, por isso vos pedimos que o façam... e que também defendam as ideias que colocaram no papel...Nós, enquanto docentes, temos várias formas de aceder ao vosso pensamento... através do que fazem, do que dizem e do que escrevem e quanto mais formas tivermos de avaliação, mais objectiva ela se torna e mais justa também.Claro que a tudo isto podes ter outro olhar... Este é o meu e que pode ser passível de mudança pois considero-me flexível...
CP"

sábado, 30 de maio de 2009

Next day...




Por motivos de grande cansaço, não contei mais como tem sido a experiência no hospital da Guarda no serviço de obstetricia.


Bem, depois de uma semana chego à conclusão que já aprendi mais que ao longo de um semestre completo em sala de aula (algo que já era de esperar).


Os primeiros dias foram só de observação mas agora não é a brincar. Temos ao nosso cargo dois utentes (mãe e respectivo bebé). Enfim, a maioria do trabalho prende-se por dar apoio emocional e pelos ensinos (dar de mamar, dar banho ao bebé, mudar a fralda...) Parece fácil né?




Pois bem, já assisti a uma cesariana, já vi tirar pontos das cesariadas e ja dei muito miminho aos bebés.. :) São tão fofinhos...




Esperemos pela próxima semana que se antevê complicada...




Beijinhos...


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Estágio!


25 de Maio de 2009.... começou! Começou oficialmente o estágio na Obstetricia da Guarda.


Primeiro ponto a focar: Está um friiiiiiiiiiiiooooooo....!!!!


Segundo ponto a focar: Ai que gelooooo...!!!!


Terceiro ponto a focar: Que sonoooo...!!!


Vá...

Depois de tanta ansiedade lá chegou o primeiro dia de estágio.

Primeiro diinha calminho a conhecer o hospital e mais pormenorizadamente o serviço onde vamos ficar durante 4 semaninhas..!! Sim, 4 semaninhas a ver bebés, bebés, mais bebés.. ah, e as mães e os pais deles pois claro (uma mãe e um pai para cada bebé, pois claro).

Não há muito a dizer sobre este dia, ficamos a conhecer o hospital e os profissionais.


Veremos se nos próximos dias há mais para contar ;)


beijinhosssssssssssssssssssssssssssss

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Enfermagem


Em continuação ao meu post anterior, encontrei no blog do Dr. Enfermeiro um post que acho q nós, estudantes de enfermagem, de certa forma concordámos..

Com a autorização do autor, aqui fica o post:


"Um Sherlock impaciente e os alunos que têm que marrar (senão chumbam!)..."


"Tenho andado, por aí fora, a investigar os Enfermeiros, mais precisamente em que actividades é que estes despendem o seu tempo. Como a senhora Bastonária vai mandando umas postas de pescada ao ar (sobre o suposto número de Enfermeiros em falta), baseadas em números batoteiros da OCDE, temos, nós próprios e obrigatoriamente, que nos dedicar a pescar com inteligência.
Ao longo do tempo descobri um padrão numérico que se repete em ciclos - se a senhora (que empunha o bastão) acorda para a esquerda, faltam 20 mil Enfermeiros, para a direita, já faltam 30 mil. Se come grelhados, a conta chega aos 18 mil, se o jantar é cozido, a coisa é mais avantajada: faltam 40 mil.
Mais mil, menos mil (perdeu-se a personalização, agora, na Enfermagem, é tudo aos "mil"), as Instituições de Saúde já deitam os currículos pela janela pois, pelo que dizem (e eu confirmo), já ocupam espaço em demasia. Até já se manda currículos para Instituições que ainda não abriram, nem vão abrir a curto prazo.
Nós, os ingénuos, ao contrário dos californianos e não só, não temos qualquer legislação que regulamente rácios, e cá na Lusitânia estas coisas decidem-se à luz do vento da trova que passa, ou seja, à vontade do digníssimo Administrador que a política determinou para o lugar. Num serviço onde deviam estar 4 por turno, metem 2, e avisam que se não trabalharem por 4 vão para o "olho da rua"... e os coitados - perdoem-me a expressão - trabalham (mais óbito, menos óbito) para salvar o próprio coiro (por 4, 5 ou mais colegas se for necessário...)!
Se lhes reduzem o salário a metade, trabalham também (seringa atrás da orelha e assobio alegre)! Há limpa-chaminés com mais dignidade! Em Braga, por exemplo, três auxiliares de limpeza não aceitaram que lhes retirassem os direitos: foram despedidas e puseram o Estado Português em tribunal!! Se fossem Enfermeiras tinham-se borrado de medo e calavam-se. Acho que o problema reside, em parte, na filosofia sofredora e humilhante que as escolas imprimem nos alunos - tratam-nos como operários subalternos feitos crianças. No meu tempo, disse-me uma "professora": "a barba é para se fazer todos os dias durante o estágio". Andei semanas-a-fio barburdinho da silva, já nem aguentava o prurido e estou cá.
.
Já está na hora de ensinar aos alunos o que é dignidade, igualdade e capacidade potencial. Nos "meus" alunos não há histórias da carochinha: é marrar forte e feio sem piedade (senão chumbam! - não há cá relatórios poéticos e inúteis, perfumados, com desenhos e cores bonitas! - depois de um Mestrado na área de Pedagogia e Supervisão é que me apercebi, ainda melhor, da pouca utilidade das reflexões não desejadas. A perspectiva reflexiva é um patamar que o aluno/profissional adquire com a maturidade! Só aí será proveitosa!), saber e estar, e desde logo torço o pepino: "os Enfermeiros são profissionais com o mesmo nível de dignidade de todos os outros - devemos lutar pelas nossas convicções"!
Urge a necessidade de reforma do ensino da Enfermagem. Uma das primeiras medidas seria varrer com a enorme quantidade de professores incompetentes que vagueiam pelas Escolas, disponibilizando os lugares para quem, efectivamente, é capaz e apresenta os critérios pretendidos que, vulgarmente, são exigidos a um Professor do Ensino Superior.
.
Voltando ao princípio: depois da minha investigação empírica e de relógio em punho, concluí (com todas as fragilidades metodológicas inerentes) que os Enfermeiros só dedicam cerca de 60% do seu tempo de exercício exclusivamente à Enfermagem. Isto quer dizer que, aproveitados correctamente e com dedicação a 100%, quase dobravamos(!) as horas de cuidados de Enfermagem neste país desgovernado. Enquanto tivermos Enfermeiros a fazer o trabalho de Auxiliar, Administrativos, Assistentes de Consultório, Telefonistas e afins, teremos sempre um défice na quantidade de horas de cuidados. Tenho dito!
.

P.s. - Peço desculpa, mas hoje estou ligeiramente inflamado!"




DE


PS: obrigada ao Dr. Enfermeiro

terça-feira, 12 de maio de 2009

Exames...exames...mais exames???



Em plena epoca de exames fico a olhar para a quantidade de matéria que tenho de ver, rever, estudar, perceber e decorar!


Depois penso, porque? Porque raio estou eu a estudar os passinhos direitinhos de como se faz uma consulta de enfermagem se eu nunca vi nenhuma? Nunca, sequer, me fizeram uma! Secalhar era mais proveitoso ver uma e depois perceber o que está mal ou bem.. digo eu!


No primeiro ano temos um estágio de observação em que...sinceramente... a maioria esteve a brincar com crianças! Eu fui das sortudas em que vi serem prestados cuidados de enfermagem a idosos e crianças... Mas nao seria mais proveitoso irmos para um serviço de saúde ver os enfermeiros no terreno? Não digo que o meu estágio de observação (e o dos meus colegas que estiveram em creches) nao tenha sido importante. Mas...


É preciso mudar o ensino da enfermagem. Depois de "confraternizar" com colegas finalistas, é exactamente isto que eles nos dizem: "falta-nos aulas práticas!" E aconselham-nos a nós que ainda estamos no 2º ano: "Exijam aulas práticas! Exijam que vos ensinem o que fazer! Falem, critiquem!"

"As práticas no laboratório de enfermagem representam, sem dúvida, uma das partes essenciais da aprendizagem que o estudante desenvolve ao longo do curso."





Faltam poucos dias para ir para estágio e confesso: Tenho medo! muito medo porque nao me sinto minimamente preparada para fazer o que quer que seja! enfim... veremos o que vai acontecer...





Tixa

cinco mil... sim CINCO MIL!



Cerca de cinco mil enfermeiros percorreram esta terça-feira as ruas de Lisboa entre o Ministério da Saúde e a residência oficial do primeiro-ministro num desfile classificado pelas estruturas sindicais como "o maior de sempre" da classe.
A manifestação acontece no dia em que os enfermeiros fizeram uma greve que, segundo os sindicatos, teve uma adesão na ordem dos 80 por cento, enquanto o Ministério da Saúde aponta para os 63 por cento de adesão.
Os enfermeiros contestam o actual processo de renegociação das carreiras e os protestos surgem depois de a última reunião com o Ministério da Saúde (MS), a 07 de Maio, não ter tido resultados positivos, com a Comissão Negociadora dos Sindicatos dos Enfermeiros (CNESE) a acusar a tutela de ter "recuado" em algumas das propostas já acordadas entre as duas partes.
"Foi a maior manifestação de sempre dos enfermeiros portugueses com cinco mil profissionais na rua, número indicador do descontentamento", disse hoje José Carlos Martins, coordenador do Sindicatos dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
A grelha salarial dos enfermeiros continua a ser uma das grandes batalhas.
Apesar de serem licenciados, tal como os professores ou os inspectores, o MS propõe que recebam menos, segundo o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Ao som da música dos Xutos e Pontapés "Sem Eira nem Beira" mas com um refrão adaptado, os enfermeiros exigiram "uma carreira justa" e "salários compatíveis com a sua formação".
"Senhor engenheiro, dê-me um pouco de atenção. Há dez anos enfermeiro sem subir um escalão. Nem sequer tenho carreira para me motivar. Quero uma carreira justa, por isso estou a lutar", cantaram os manifestantes desde a Avenida João Crisóstomo, passando pela Avenida Duque de Loulé, Praça do Marquês do Pombal e Rua Alexandre Herculano, para terminar o protesto em S.Bento.
O desfile foi ainda marcado por palavras de ordem como "Fartos de ser humilhados, queremos ser respeitados" e "Exigimos remuneração adequada à formação".
Na residencial oficial do primeiro-ministro e no Ministério da Saúde, uma delegação dos quatros sindicatos dos enfermeiros entregou uma moção a exigir uma carreira que "dignifique a enfermagem" e o fim da precariedade na profissão.
No texto, os sindicatos admitem radicalizar as formas de luta caso o Ministério da Saúde "continue sem apresentar uma evolução de posições" relativamente à Carreira de Enfermagem, assim como "soluções para a resolução da precariedade na profissão".
O protesto foi convocado por quatro estruturas sindicais - Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), Sindicato dos Enfermeiros, Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem e Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira - e visou assinalar o Dia Internacional dos Enfermeiros.


JN

as lágrimas que mais doem são aquelas que não correm!


Para perceberem que um enfermeiro também sofre...


Trabalho de Enfermeira


'A D. Maria tem 47 anos... e um cancro do ovário. O marido, já reformado, quis satisfazer-lhe o desejo de não morrer no hospital. Têm uma filha, a acabar o curso na universidade: boa aluna, em altura de exames... precisa de estudar e a sua mãe está a terminar os seus dias de vida no quarto ao lado. A D. Maria está em cuidados paliativos... e sabe disso! Já não quer comer, bebe apenas alguns goles de água. Tem um soro para que lhe possamos dar a medicação. Tem uma perfusão permanente de morfina, cuja eficácia não é total. A barriga... como descrever? Tem uma colostomia, que mal funciona... está inchada, como um balão que vai rebentar.. e de facto, começa a rebentar: abrem-se fístulas espontaneamente e as fezes saem por todo o lado. O cheiro? Não consigo descrever! O corpo? Pele e osso, para ser mais exacta! Há metástases no fígado, no pulmão... a respiração é ofegante... já lá vão 5 semanas...

Diariamente desloco-me a casa da D. Maria, duas ou três vezes: para dar medicação, para cuidar daquela barriga... para falar com ela, para dar o apoio possível ao marido que tenta fazer o que sabe e o que pode. O sofrimento? É grande... de todos!

Mas eu sou enfermeira: não é suposto que me seja difícil ver o sofrimento dos outros! Tudo se torna mais difícil quando estou a sós com a D. Maria, que me agarra na mão e me pede insistentemente... que termine com a vida dela! Os apelos são cada vez mais frequentes, mais desesperados: 'Por favor! Se tem compaixão de mim, injecte-me qualquer coisa para terminar de vez com esta agonia! Pela sua felicidade, por favor, acabe com a minha vida...' E eu tenho compaixão... mas nada posso fazer! A dor não se consegue controlar, é impossível cuidar dela sem lhe provocar ainda mais dores? O que faz uma enfermeira? Vai-se embora, para casa, a sentir-se inútil... A sentir-se incapaz... A ouvir repetidamente aquele apelo... e a desejar, embora lhe custe muito, que a eutanásia fosse possível! Mas, se fosse possível... e a praticasse, como iria para casa? Mas para quê falar disto?... Os enfermeiros não têm sentimentos! Saio dali, continuo o meu trabalho domiciliário: agora entro numa barraca, onde chove dentro, onde há ratos, pulgas, lixo... onde o cheiro nos faz perder o apetite... O Sr. José tem 87 anos e vive sozinho. Tem uma úlcera varicosa. Tenho que fazer o penso. Não há água... nem sequer as mãos posso lavar. Passo-as por álcool à saída e lavo-as na casa do próximo utente.

Chove desalmadamente. Volto para o carro, pelo meio da lama. Carrego as malas do material para os cuidados. Mas para quê falar disto?... A minha profissão não é penosa!... Próxima paragem: D. Joaquina, 92 anos, vive numas águas furtadas, 5º andar, sem elevador. Subo as escadas de madeira, apodrecidas, obscuras, com medo que alguma tábua se parta. Carrego com as malas do material... A D. Joaquina vive com uma irmã, naquele espaço exíguo. Teve uma trombose. Tem úlceras de pressão. O tecto é baixo, inclinado, a cama está encostada à parede. Para lhe prestar cuidados tenho que me pôr de joelhos no chão e ficar inclinada. Quando me tento endireitar as minhas costas doem... tenho as pernas dormentes... pego nas malas, desço as escadas... continua a chover... procuro o carro que tive que estacionar a 500 metros!

Mas, para quê falar disso? Os enfermeiros não se queixam... Próximo desafio: a Helena! Toxicodependente... tem SIDA, continua a consumir... com sorte, ainda lá encontro o traficante em casa... mas as enfermeiras não têm medo!

Continuo: o Sr. Manuel é diabético, divorciado, tem 50 anos, foi amputado de uma perna, vive sozinho num 3º andar. Há 2 anos que não sai de casa: como fazer? Das poucas pessoas, com quem convive, são as enfermeiras! Precisa de conversar... como lhe dizer que ainda tenho mais 4, ou 8 pessoas e que não tenho tempo para estar ali a ouvi-lo? Mas para quê falar disso? Os enfermeiros só dão injecções e fazem pensos... tudo o resto é supérfluo! Para quê falar da solidão do outro, da minha impotência, do pedido de eutanásia, da chuva, do frio, do sol, do calor, do mau cheiro, das minhas dores nas pernas, do material do penso a conspurcar o meu carro (a seguir vou buscar a minha filha à escola!), das dores nas costas, do medo, da insegurança, do ventre desfeito, da tristeza, da compaixão... ....

Não, a penosidade e o risco devem ser uma ilusão minha...

Não, as enfermeiras não choram!

Mas sabem?...

as lágrimas que mais doem são aquelas que não correm!"


E no fim de tudo isto, querem pagar-nos 3€ por hora. Não estou a tirar o curso para ganhar muito dinheiro (se assim fosse não estava em enfermagem), também nao tiro o curso para que me agradeçam. Mas por favor, não nos gozem.


Patrícia

segunda-feira, 11 de maio de 2009

obrigada avó!


No âmbito da disciplina de tecnologias da saúde, calhou-me em mãos um tema do qual já ouvi muito falar e, de certa forma, vivenciei.

Diálise.

A Sr.ª P. (minha avó) sofria de diabetes desde os seus 30 anos. Todos sabemos as consequências que daí advém.Neste caso depois de muitas outras complicações, surgiu a insuficiência renal.Primeiro hipótese de tratamento: transplante. O dador existe, há uma grande probabilidade de compatibilidade (pois o dador é da família da Sr.ª P. – irmã) mas… a Sr.ª P. recusa. Tem consciência que a irmã viverá saudavelmente só com um rim, também sabe que era a melhor hipótese de tratamento, mas refere que “se ela tem a doença a irmã também poderia vir a ter e não quer deixar mal a irmã”. A insistência por parte dos profissionais de saúde e pela própria irmã (dadora) não a fizeram mudar de ideias. Transplante, NÃO!

Segunda hipótese: Hemodiálise. A Sr.ª P. aceita. Inicia-se o tratamento. O táxi vem busca-la e traze-la a casa. São 3 vezes por semana. São 3 vezes por semana que a Sr.ª P. se desloca à clínica, são 3 vezes por semana que a Sr.ª P. chega a casa com pirose, são 3 vezes por semana que a Srª. P. chega a casa e nada mais consegue fazer. É de salientar que esta senhora fazia o almoço sempre para toda a família. Não conseguiu mais faze-lo. Daqui surgiram muitas complicações psicológicas,principalmente um sentimento de inutilidade. Nós, a família, não sabíamos o que fazer, ninguém nos informou das consequências do tratamento, ninguém nos explicou que isto poderia acontecer. A Sr.ª P. piora e recusa continuar com o tratamento.

Terceira hipótese: Diálise peritoneal. Tratamento feito em casa, ainda que todos os dias e 3 vezes por dia. A Sr.ª P. aceita e refere que “assim já consegue cuidar das netas e fazer o almoço para toda a gente”. Aqui sim, a família foi chamada. Dois elementos da família, além da utente, deveriam aprender a fazer o tratamento. Aprendi eu e o marido da Sr.ª P. (meu avô). Agora sim, explicaram todo o processo, vantagens e desvantagens. Agora sim, explicaram o porquê do tratamento e toda a sua envolvência.

Aprendi a fazer diálise peritoneal ao lado de crianças. Sim, crianças com 5 ou 6 anos, mal sabiam ler mas aprendiam como ninguém a fazer o seu tratamento, sem queixas ou choros. Aprendem rápido! Crianças que consolavam os pais que choravam por elas. Inicialmente, achei que juntar as crianças e adultos no mesmo espaço não seria boa ideia. Pensei eu que elas poderiam sentir-se mal ou até pensariam que, depois, quando adultos continuariam com o tratamento como aqueles adultos. Depois abandonei a ideia. Estas crianças dão uma enorme força a todos os adultos. Dão uma lição de vida.

E queixamo-nos nós da nossa vida?

Eu, como familiar de uma pessoa com insuficiência renal, ficava muitas vezes a pensar nisto. Tantas vezes pensava eu “que mal está a minha vida”, mas depois olhava para o lado e via a minha avó que apesar do tratamento continuava ali sempre pronta a ajudar. Que apesar de continuar com algum sentimento de inutilidade, tudo fazia para ajudar toda a gente que vivia naquela casa, para não ser uma sobrecarga para ninguém. E acima de tudo, para continuar a viver, pois os únicos sonhos, era ver as netas bem e formadas, um dos maiores orgulhos era que uma se torna-se enfermeira, profissionais que ela muito admirava pelo contacto que tinha com eles.

Não viu, mas esteja onde estiver eu sei que ela vê.

Obrigada avó!


A tua Nitinha

Porque a enfermagem é a minha vida...

"Como Enfermeiro, estive hoje de greve assegurando cuidados mínimos. Revejo-me integralmente nas reivindicações da classe. Mas pergunto-me como as outras pessoas vêm a nossa classe, a nossa profissão, a nossa posição na sociedade. Será que não seremos o parente pobre de um sistema de saúde que só tem olhos para outros interesses…
Sou licenciado. Ganho como bacharel ou nem isso. Deveria fazer 140h por mês e trabalho 160 ou mais. Não recebo nada por essas horas a mais, acumulando horas. Tenho colegas com quase 200h positivas, ou seja, 200 horas que prestaram serviço de qualidade e que não viram compensado o esforço, e porque não dizê-lo, dedicação à causa pública, fazendo os possíveis todos os dias para não faltar nada em termos de cuidados de enfermagem. Essas 200 horas deveriam ser pagas como extraordinárias, ou melhor ainda, deveriam ser realizadas por um dos 5mil enfermeiros que actualmente não tem emprego. No meu serviço devem-se mais de 2000h. No meu hospital há umas dezenas de serviços e a média é nalguns casos superior. Devem-se no país, talvez um milhão de horas de cuidados. O que daria trabalho a mais 7000 Enfermeiros. E já nem estou a falar no aumento do numero de enfermeiros por cada turno, senão o número teria de ser ainda maior. No meu serviço, para 32 doentes, podem estar apenas 2 enfermeiros de serviço. E ao contrário do que por vezes pensamos (os enfermeiros pensam) só temos 2 mãos, 2 olhos, 2 pernas e 1 cabeça. E não somos omnipresentes.
Sou contratado há mais de 4 anos, trabalhando um pouco à margem da lei com contratos de 6 meses 'miraculosamente' renovados. Mas será que algum dia deixarão de precisar realmente dos enfermeiros para termos um contrato tipo 'hipermercado' ou pior? Depois, nestes 4 anos vi o meu ordenado ser aumentado pouco mais de 40€, ou seja 10€ ano. Não subi nenhum escalão, grau, etc, porque simplesmente não há carreira de enfermagem definida, e como contratado a coisa complica-se. Qual é o meu estímulo todos os dias? Apesar de ainda adorar o que faço, trabalho porque preciso do €€€€. É frustrante pensar que todos os anos ao contrário do que deveria ser, ganharei menos. Deveria ganhar como licenciado e ganhar horas extras se me fossem exigidas. Eu que ganho 6,5€ à hora, bem menos que alguns funcionárias da limpeza (sem desprimor para o seu trabalho), não me pagam horas extra. Mas pagar 2500€ por 24h de um médico, já é moralmente e legalmente aceite. Deixemos de ser hipócritas. Sou mal pago. Sinto todos os dias na pele, o peso e o risco desta profissão, que não é dar injecções e medir tensões. Está redondamente enganado quem dessa forma pensa. Somos um elo central nas relações clínicas, um peça chave. Quem esteve internado e já precisou de nós saberá a que me refiro. Formação adicional é sempre condicionada pelos serviços e instituições, num país que quer ter miúdos com computadores por todo o lado, num país em que se não formos doutores não somos ninguém, mas apelar a uma formação contínua, tendencialmente gratuita, é só para outras classes. A qualidade afinal é para outros verem. O doente que se trame.
Se tenho um curso de suporte básico de vida, devo-o a mim. 200€ e tem de ser renovado em 2-3 anos.
Se tenho um curso de suporte avançado de vida, devo-o a mim. 400€ e renovado em 2-3anos.
Se quero ser especialista, terei de ter pelo menos mais 6000€ de propinas para pagar. E depois, esperar que me aceitem numa instituição, que abram concursos, que se desbloqueiem verbas, etc. Um médico depois de médico torna-se especialista praticamente sem ir à escola em 6 anos. A prática é quase tudo. Nós seremos muito diferentes? Se quero tirar uma pós-graduação ou mestrado, arrisco-me a queimar as pestanas e tirar tempo à família, não esquecendo mais 3000€ ou 6000€ de propinas. Em troca recebo mais 0€ ao fim do mês. É isto um estímulo ao desenvolvimento? É assim que a profissão está. É assim que nos sentimos."

Autor desconhecido